Mantenho com a escrita uma relação de profunda negligência.Escrever é uma forma de abandono que não pertence à realidade, nem tem valor perante o caso da existência. A narrativa provoca um rasgão entre o meu corpo e o corpo da escrita. Quero unir a memória mas há nela uma negação insuportável, uma impossibilidade potencial.
Escrever contra a escrita não favorece a sua desistência, apenas absorve o eu ou ela que vive sob a pele da linguagem e me leva ao estilo. O estilo, experimenta as preferências do nosso desejo.
(in Repetir o Poema, Isabel De Sá,Quasi Edições,2005)
1 comentário:
Escrevo como quem Quer Ser Escrito
escrevo como quem quer ser escrito
uma árvore ou uma pena no centro da frase
um espelho branco onde observo a palavra
e dos seus troncos brotam folhas, letras
inundações de verde no lago azul do céu
que caem, voando, asas de papel
como tu, também eu sussurro
lentas sílabas à leve melancolia que nos abraça
Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"
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